terça-feira, 9 de abril de 2013

Efêmero

O sol finalmente dava o último adeus para aquele ano. O inalcançável horizonte ia, aos poucos, consumindo aquela pequena bola de fogo. Encostada na varanda, com metade do corpo iluminada, lembrava de alguém ter lhe dito, ou havia lido em algum lugar? Não sabia; em alguma parte de sua vida criou o costume de subir até o terraço e presenciar o momento único, aquele instante em que a última ponta do sol se confundia com a linha que separa a terra do céu. Em um dia há dois acontecimentos que nunca mais irão ocorrer novamente: a fração de segundo em que o primeiro raio de luz surge, e o seu preferido, o que deixava um rastro de explosões de cores, fazendo-as se misturarem e se exibirem, até se apagarem lentamente, trazendo o azul da escuridão. Aquele dia não só era o mais bonito de todos, mas ao mesmo tempo o mais terrível. O peso do último dia do ano lutava com a beleza das nuvens pintadas. Neste instante, a moça se sentia pequena demais por possuir tamanha emoção; ela havia, enfim, entendido e alcançado o efêmero. Ela era o efêmero.
Debruçada sobre a mureta do terraço, pensava junto com as primeiras estrelas que só agora acordavam. Sua memória não a deixava em paz. Lembrava de cada momento de sua vida. Quando criança, sonhava muito, vivia em um mundo só seu. Felizes aqueles poucos que realizaram um sonho de infância. E, assim como o sol que nasce, criou-se dentro dela uma faísca de iluminação, o terceiro acontecimento único do dia. O que estou fazendo com a minha vida? Todo esse tempo vivendo a inércia do cotidiano, sem realmente viver. Mas afinal, o que é viver? Tantas perguntas e a certeza de que algo deveria mudar.