sexta-feira, 13 de setembro de 2013

Nunca serei Garcia Lorca

La noche es herida por mis pensamientos. 
La luna es llena y menguante al mismo tiempo. 
Una gitana presa en sus ensueños.

Os pandeiros e as palmas apenas cessam quando a chama apaga.

A luz cúmplice da lua era testemunha. 
Os tijolos e paus, um a um, sendo encaixados.
E nós, enfrente ao que antes eram janelas e portas. 

A fogueira estalava ecos pelas estrelas
O riso era o pranto dos que levam a terra nas mãos

Os pés eram cruzes fincadas na estrada 
E o pó, com gosto de morte

La noche es herida por mis pensamientos

La luna es llena y menguante al mismo tiempo
Una gitana presa en sus ensueños

Mas a guarda já estava ali

E o efêmero sol poente se escondia
Das flores de pólvora que perfuravam 
Homens e sonhos

Amigo, já não sou mais eu
Quem fala, já não sou mais ti
Que fere, já não sou mais o povo
Que grita e emana na dor

Amigo, agora sou a terra

Sou um último fôlego
Sou esquecimento
Amigo, agora já não sou

La noche es herida por mis pensamientos
La luna es llena y menguante al mismo tiempo

Una gitana presa en sus ensueños

Tarde

É tarde
Tudo é tarde
Agora, tudo é tarde
Invadiu? Agora, tudo é tarde
Me invadiu? Agora, tudo é tarde
Por que me invadiu? Agora, tudo é tarde
vazia, por que me invadiu? Agora, tudo é

terça-feira, 27 de agosto de 2013

I'm in Blue

Eu soul,
mas não soul para ti.

Cigana

rio que corre
passageiro que partiu
mas ficou
antes da hora
o agora já não é
mais do que o simples pó
de minha existência
eu sou cinza
e você
a chama fraca que corrói
até não mais

segunda-feira, 1 de julho de 2013

Revolvendo

Quero andar por aí
até meu cabelo tocar as pontas dos dedos
raízes confusas buscando no céu
nuvens de desapego

Quero voar por aí
até de meus braços caírem penas
e de meus olhos as ramas
fugitivas da leveza

De meu ser resta pouco além de ser


domingo, 30 de junho de 2013

Vagabundos

E se as luzes apagarem
como acontece aos que vagam
Vagão de trem, luz
Vagão de trem, poste
Vagão de trem, trilho
Vaga-lumes vagam luzes
estrelas estrépitas a voarem
névoas incandescentes
pontos finais a flutuar
pelo triste tecido do verde
céu.


sábado, 29 de junho de 2013

Propofol

A morte não é tão ruim assim. É um sonho eterno. Não sei o que sonhei, mas foi vivo, foi aquilo, eu vivi aquilo. Agora estou matando palavras como coisas clichês, para descrever epifanias muito maiores que minha capacidade de escrever. Estou me perdendo novamente em confissões rasas, tudo volta ao normal, os limites me prendem. Antes não era assim, era um fluxo de consciência livre, sem amarras, sem palavras, sem definições. Arte pura, viver aquilo, a morte talvez seja isso, nada a temer, apenas SER. Ser como forma pura, sem se prender ao que os outros vão pensar do que você é, do que você faz, eu sou arte, terremoto. Houve um terremoto, sem olhares, sem prisões sociais. Apenas ser, já era, já passou.

*

Aisthésis: sensação do sentido do tato. Estética, faz aquilo que é belo ser sentido.
Anaisthésis: aquilo que não se sente (de belo). Anestesia.


*

Contexto: eu acabando de voltar de um exame em que me anestesiavam. Acho que os gregos não conheciam o Propofol.

terça-feira, 9 de abril de 2013

Efêmero

O sol finalmente dava o último adeus para aquele ano. O inalcançável horizonte ia, aos poucos, consumindo aquela pequena bola de fogo. Encostada na varanda, com metade do corpo iluminada, lembrava de alguém ter lhe dito, ou havia lido em algum lugar? Não sabia; em alguma parte de sua vida criou o costume de subir até o terraço e presenciar o momento único, aquele instante em que a última ponta do sol se confundia com a linha que separa a terra do céu. Em um dia há dois acontecimentos que nunca mais irão ocorrer novamente: a fração de segundo em que o primeiro raio de luz surge, e o seu preferido, o que deixava um rastro de explosões de cores, fazendo-as se misturarem e se exibirem, até se apagarem lentamente, trazendo o azul da escuridão. Aquele dia não só era o mais bonito de todos, mas ao mesmo tempo o mais terrível. O peso do último dia do ano lutava com a beleza das nuvens pintadas. Neste instante, a moça se sentia pequena demais por possuir tamanha emoção; ela havia, enfim, entendido e alcançado o efêmero. Ela era o efêmero.
Debruçada sobre a mureta do terraço, pensava junto com as primeiras estrelas que só agora acordavam. Sua memória não a deixava em paz. Lembrava de cada momento de sua vida. Quando criança, sonhava muito, vivia em um mundo só seu. Felizes aqueles poucos que realizaram um sonho de infância. E, assim como o sol que nasce, criou-se dentro dela uma faísca de iluminação, o terceiro acontecimento único do dia. O que estou fazendo com a minha vida? Todo esse tempo vivendo a inércia do cotidiano, sem realmente viver. Mas afinal, o que é viver? Tantas perguntas e a certeza de que algo deveria mudar.