sexta-feira, 17 de julho de 2015

Apenas duas mãos

levo comigo o segredo do mundo
e o mundo me leva em secreto sigilo

guardo contigo o universo singelo
de te ter em mim em murmúrio contido

desato nós do passado
de fios amarrados pelo futuro

emaranhados pelo presente
respiro no teu peito
a implosão do caos rarefeito

quarta-feira, 8 de julho de 2015

sinto na boca um gosto de anzol
novamente sendo fisgada
e jogada de volta ao mar

sábado, 28 de fevereiro de 2015

Ao amigo Vitor M. Rigotti

viver
como se fosse
da primeira vez

abraçar 
cada momento
como se fosse o
último

se despedir 
pois tudo que é livre
deságua 
no mar da saudade

domingo, 8 de fevereiro de 2015

me enlaço em cada tropeço meu
me desfaço de cada acerto seu

estrada

chão que me consome
me tome de súbito
te risco de sol
e busco saudade
brisa
bagunce meus pensamentos verdes
e deixe
que minhas pálpebras pesem
o horizonte
inspiro mais do que posso
fios de poeira
caminho
e acaricio o tempo com o aceno do destino
e amacio o vento com o sabor do riso
que risca o asfalto de sonhos

em desencontro
me encontro

Un tango para dos

al amigo Alan Sacco


yo siento gusto de sangre
de muerte del sueño
que un dia tuve

pienso en el imposible
y descreo
en crerme tan sola
confio demasiado

voy a parar, voy a murir
un poco más
y despues, quien lo sabe,
me despierte
y en el sueño vea
que cada sueño
es pesadilla
y que todo eso
hace parte del equilibrio

trôpegos

me lembrei
que fui esquecida por vários olhares
ausentes
tropeçaram por minha pele
como se me descamassem
e tirassem
em cada tanto
um canto meu
em pensamentos longos
me fui
quis abraçar o passado com as mãos do futuro
me restou acordar
e sentir o vazio que completava meu peito
em mim mesma
me esqueci

domingo, 25 de janeiro de 2015

Polaroide

Se lembra quando tudo era mais leve, até mesmo o peso dos nossos corpos, que não conheciam o pesar?
Se lembra daquela foto, você ao meu lado, menor, e o meu sorriso e o seu eram um só?
Se lembra que as aparências não enganavam, e que na verdade, tudo o que a gente era estava ali, sem precisar se esconder na vaidade?
Se lembra quando as dores não estavam enraizadas, e que tudo era tão fácil, tão único, tão verdadeiro?
Se lembra quando a gente não competia, mas que, muito pelo contrário, eu guardava o chocolate pra depois dividir com você?
Se lembra quando nenhuma de nós queria que a outra se sentisse ridícula, afinal, não conhecíamos a humilhação, só tínhamos tempo para pensar em assistir mais um episódio do pequeno urso numa tarde depois da escola?
Se lembra como nos defendíamos dos piás nos zuando, e isso por que só nós tínhamos o direito de zuarmos a nós mesmas!?
Eu já não me lembro mais de quando nos perdemos...


"Lembrou o riso que eu tinha e esqueci entre os dentes"

clarão verde a despertar
buracos de céu procurando espaço no balançar das folhas
sombra e luz brincando de esquecer o tempo
tilintavam, dançantes, efêmeras, escorregando
aos olhos que pesavam
sono de não viver
sonhar de partir

fez da solidão sua única companheira.